"CARAPUÇA"
Arte é intimo e pessoal,
mas não neste lugar mais superficial,
do conhecimento,
da comunicação
limitada à palavra
e à expressão gestual,
a intimidade de que falo
é plena
num esbarrão de olhos,
fogo cruzando entre as almas buliçosas,
flexas incandecem inflamando-se na mira,
salamandra essencial,
nua das formas,
acertada no meio,
em cheio, o centro da íris,
e a paixão, amor em seu estado incendiário,
queima nas almas desavisadas de si mesmas em outros corpos,
carbonizando a matéria que permanece intacta,
para o delírio de alguns,
e para o terror de outros,
que não sabem mais querer viver sem, nem com.
Arte só declara quem assiste,
é intransferível,
o criador está morto,
não existe se acredita dono,
doa a quem doer, não mesmo,
mente pra si se sim,
nunca pra mim,
que morro quase todos os dias,
e agora mais uma vez!...
e sobre os aplausos finais
e os gritos ancestrais,
fantasia do teu ego
que ainda precisa de confete
pra fazer carnaval.
Vou continuar gritando
pra quem quiser ouvir,
lavo minha alma quando o fizer.
Se a carapuça serviu,
sem que eu tirasse a medida do teu crânio de minhoca da terra,
é pra você mesmo que digo.
Sinto muito.
Cuido do meu figurino,
de mais ninguém.
(ALEXANDRE KIRCHMAYER)